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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Feito um vendaval

                           
                             

                "Paixão é a alucinação amorosa. E os apaixonados são de duas espécies: os generosos, que se dão inteiramente, se jogando nas mãos do outro, e os possessivos, que querem que o outro se incorpore a eles convertidos em sombra viva.
Paixão, por isto, é arma de dois gumes. E corta. E sangra. Se não sangrou, se não teve insônia, se não desesperou, paixão não era. Talvez fosse desejo, que o desejo é diferente. No desejo a gente quer o outro para possuir apenas, passageiramente. Na paixão, não. Na paixão, a gente quer se fundir com o outro, para sempre. E se o outro disser assim: “Vai ali buscar aquela estrela para mim”, a gente vai. Se disser: “Não estou gostando do seu nariz”, a gente opera. A paixão é boa? A paixão é ruim? Ninguém sabe. Ela acontece. Como certas tempestades ela acontece. Assim como depois dos vendavais os elementos da natureza já não são os mesmos, ninguém é o que era depois do desvario da paixão. Vidas renascem com paixões. Outras viram cinza por causa dela. E há pessoas que são como aquela ave mítica, a Fênix, vivem renascendo das cinzas da paixão.
Marx (Karl Marx, filósofo e economista alemão) errou completamente. Não é a luta de classes que move a história, é a paixão. Paixão é a revolução a dois. E toda a comunidade fica abalada. Foi assim com Romeu e Julieta. Foi assim com Tristão e lsolda. Não é de hoje que reinos se fazem e se refazem por causa da paixão.
Existe diferença entre amor e paixão? Existe. No amor, claro que há luminosa coabitação. Mas o amor é também paciente construção. Já a paixão é arrebatamento puro e a voragem é tão grande que pode tudo se esgotar de repente. Quantas vezes se apaixona numa vida? Há gente que vive se inventando paixões para viver. E há gente que organiza toda sua vida em torno de uma única e consumidora paixão.
Paixão é transgressão. Quanto mais obstáculos inventarem, mais o apaixonado os saltará. E o apaixonado não tem medo do ridículo. O que lhe importa o mundo se o seu mundo é apenas o mundo da pessoa amada? A paixão tem cor. É roxa. E é vermelha. Pressupõe morte e ressurreição. Da paixão vivemos muito.
Da paixão morremos sempre."
Affonso Romano de Sant’Anna, poeta e cronista mineiro

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